sexta-feira, 1 de julho de 2011

Caro Amor,

Eu sempre quis, muito, muito te amar. Porque você era o desenho do homem idealizado pra mim. Viajante, meio gringo, Hugh Grant, estudado, importante, cativante, perfeitinho, de terninho, burocrata, etc...etc...
Eu sempre quis tanto te amar que eu tentei de primeira e, com muito medo, recuei, porque eu queria amar minha estátua e não me machucar amando alguém de verdade.
Eu sempre quis muito, muito te amar. Que por não ter acesso a você eu fui de encontro ao teu semelhante e eu o usei para tentar te encontrar, infelizmente.
Eu sempre quis, muito, muito te amar. Te apresentar as pessoas em volta orgulhosa,para mostrar o homem-prémio que você seria pra mim se ficássemos juntos. Porque você era alguém que apesar de tantas oportunidades de ser alternativo, decidiu ser um homem sério e próspero, perfeitinho do jeito que se espera de alguém nos dias de hoje.
Eu quis te amar, mas não amei, porque na verdade eu nunca achei essas coisas de fato importantes ou merecedoras do meu amor. Recebiam no máximo minha admiração iludida...
Eu te amei no dia em que você ficou nu na chapada e não se inibiu por nada, nem por ninguém, e convenceu todos da sua liberdade.
Eu te amei quando você tocou violão lá na casa da piscina e me fez fechar os olhos pra ouvir seu coração.
Eu te amei quando você veio de manquine até a piscina e nos sorriu com o corpo todo.
Eu te amei por saber que você estava se permitindo amar com outra moça.
Eu te amei quando você abriu seu coração para nossa amizade novamente.
Eu te amei quando você, mesmo tendo me ferido, decidiu ser franco, honesto, mesmo correndo o risco de ter minha raiva para sempre.
Eu te amei quando você falou de um dos seus momentos mais secretos e de seus medos sobre ele.
Eu te amei quando te vi constelar numa história tão linda que é a da tua vida, e nas decorrentes conversas sobre sua história, suas ambições, seu futuro.
Eu te amei quando você admitiu seu ciuminho, tão humano.
Eu te amei quando fiquei te olhando enquanto mexia com o taro e você tocava ao meu lado.
Eu te amei quando você me sorriu de manhã e me deu bom dia, me assediando mais uma vez!
Eu amei em você todas as coisas que tenho medo de amar, de admitir que me fascinam, de deixar fazer parte da minha vida. Eu amei e amo em você aquilo que mais desejo libertar em mim. A palavra amo é forte, mas é a única que pode traduzir o que eu sinto. Esse amor não é daqueles desesperados, que estão na expectativa do futuro, mas é o que é, que contempla amizade também e já acha maravilhoso o que se pode ter. As expectativas sempre foram fruto da estátua, das ilusões.
Eu sei que você gosta de mim, que tem carinho e consideração. Eu também os tenho por você. Eu tinha começado a escrever essa carta antes, muito mais em reverencia a nossa história que em contemplação ao nosso presente. E é pra mim a vitória sobre o meu medo de me aproximar demais de você, de me expor e não ter atendidas as minhas expectativas, me ferir gravemente porque sei do seu jeito de levar as coisas e costumava ser muito diferente do meu.
Tenho agora uma imagem de você se transformando e crescendo, e essa talvez seja uma das coisas que eu mais admire do presente. Eu sei que esta mudança é muito mais em outras esferas e que na amorosa possa ser que seja a última acontecer, e eu talvez nem desfrute dela. Mas essa é a parte da carta que contempla nosso presente.
As minhas expectativas – deixando as ilusões de lado - são que esse momento tempestuoso passe, que tudo se reequilibre e que possamos continuar nos reconhecendo e se abrindo cada vez mais, nos sentindo livres para nos apaixonarmos, sermos bregas ou para voltarmos a nossa boa amizade.
Com carinho, Dani Colonizada.

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