quinta-feira, 28 de julho de 2011

Se a vida é curta, porque a noite é tão longa?

Era um belo fim de tarde de domingo, todas as estrelas estavam se preparando para brilhar. Nesse mesmo momento do céu um pedaço de nuvem desceu e tomou toda a cidade, todo o campo e todos os corações. Na vila baixa, todos se recolheram e na floresta os passáros dormiram mais cedo. Nesse momento, todos dentro de si mesmos, todos estavam no espelho e todos decidiram se olhar. Tudo que puderam ver a priore foram seus contornos, formas, cores, tamanhos. Depois viram o medo, a angustia, a aflição, o frio, o desespero. Aos que continuaram olhando, foi surgindo de mansinho uma luz no reflexo. A luz vinha de dentro e se expandia pra fora e a esses foi permitida A Visão. Era O Amor e uma consequente Feliciade. E só isso. As estrelas venceram as nuvens, a lua consequentemente teve espaço e todos foram dançar no coreto da praça no meio da noite.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Caro Amor,

Eu sempre quis, muito, muito te amar. Porque você era o desenho do homem idealizado pra mim. Viajante, meio gringo, Hugh Grant, estudado, importante, cativante, perfeitinho, de terninho, burocrata, etc...etc...
Eu sempre quis tanto te amar que eu tentei de primeira e, com muito medo, recuei, porque eu queria amar minha estátua e não me machucar amando alguém de verdade.
Eu sempre quis muito, muito te amar. Que por não ter acesso a você eu fui de encontro ao teu semelhante e eu o usei para tentar te encontrar, infelizmente.
Eu sempre quis, muito, muito te amar. Te apresentar as pessoas em volta orgulhosa,para mostrar o homem-prémio que você seria pra mim se ficássemos juntos. Porque você era alguém que apesar de tantas oportunidades de ser alternativo, decidiu ser um homem sério e próspero, perfeitinho do jeito que se espera de alguém nos dias de hoje.
Eu quis te amar, mas não amei, porque na verdade eu nunca achei essas coisas de fato importantes ou merecedoras do meu amor. Recebiam no máximo minha admiração iludida...
Eu te amei no dia em que você ficou nu na chapada e não se inibiu por nada, nem por ninguém, e convenceu todos da sua liberdade.
Eu te amei quando você tocou violão lá na casa da piscina e me fez fechar os olhos pra ouvir seu coração.
Eu te amei quando você veio de manquine até a piscina e nos sorriu com o corpo todo.
Eu te amei por saber que você estava se permitindo amar com outra moça.
Eu te amei quando você abriu seu coração para nossa amizade novamente.
Eu te amei quando você, mesmo tendo me ferido, decidiu ser franco, honesto, mesmo correndo o risco de ter minha raiva para sempre.
Eu te amei quando você falou de um dos seus momentos mais secretos e de seus medos sobre ele.
Eu te amei quando te vi constelar numa história tão linda que é a da tua vida, e nas decorrentes conversas sobre sua história, suas ambições, seu futuro.
Eu te amei quando você admitiu seu ciuminho, tão humano.
Eu te amei quando fiquei te olhando enquanto mexia com o taro e você tocava ao meu lado.
Eu te amei quando você me sorriu de manhã e me deu bom dia, me assediando mais uma vez!
Eu amei em você todas as coisas que tenho medo de amar, de admitir que me fascinam, de deixar fazer parte da minha vida. Eu amei e amo em você aquilo que mais desejo libertar em mim. A palavra amo é forte, mas é a única que pode traduzir o que eu sinto. Esse amor não é daqueles desesperados, que estão na expectativa do futuro, mas é o que é, que contempla amizade também e já acha maravilhoso o que se pode ter. As expectativas sempre foram fruto da estátua, das ilusões.
Eu sei que você gosta de mim, que tem carinho e consideração. Eu também os tenho por você. Eu tinha começado a escrever essa carta antes, muito mais em reverencia a nossa história que em contemplação ao nosso presente. E é pra mim a vitória sobre o meu medo de me aproximar demais de você, de me expor e não ter atendidas as minhas expectativas, me ferir gravemente porque sei do seu jeito de levar as coisas e costumava ser muito diferente do meu.
Tenho agora uma imagem de você se transformando e crescendo, e essa talvez seja uma das coisas que eu mais admire do presente. Eu sei que esta mudança é muito mais em outras esferas e que na amorosa possa ser que seja a última acontecer, e eu talvez nem desfrute dela. Mas essa é a parte da carta que contempla nosso presente.
As minhas expectativas – deixando as ilusões de lado - são que esse momento tempestuoso passe, que tudo se reequilibre e que possamos continuar nos reconhecendo e se abrindo cada vez mais, nos sentindo livres para nos apaixonarmos, sermos bregas ou para voltarmos a nossa boa amizade.
Com carinho, Dani Colonizada.

Caros amigos,

Com quase todo mundo eu falo besteira. Com quase todo mundo eu conto meu passado negro. Com quase todo mundo eu sou utilitarista. Com quase todo mundo eu dou risada, com quase todo mundo eu passo dos limites.
Pois bem.
Com quase ninguém eu consigo tocar/ser tocada sem pensar que vai ser pra sexo. Com quase ninguém eu sento pra conversar e exponho meu ponto sem receios e sem cuidados com as palavras. Com quase ninguém eu admito não ter ido no Itiquira. Com quase ninguém eu danço de olhos fechados. Com quase ninguém eu ando na laminha do lago paranoá. Com quase ninguém eu me importo como num clã. Com quase ninguém eu vou a aulas experimentas de danças bizarras. Com quase ninguém eu divido a cama. Com quase ninguém eu divido minha fé. Com quase ninguém eu divido minhas limitações. Com quase ninguém eu divido meus textos. Com quase ninguém eu divido meu amor. Com quase ninguém eu divido minha voz e com quase ninguém eu divido meu lar.Com quase ninguém eu divido meu filhote. Com quase ninguém eu sinto cócegas. Com quase ninguém eu divido minhas raízes. Com quase ninguém eu divido minhas idéias brilhantes.
Enfim...
Eu fui nesse ano mais uma vez pra perto de pessoas que eu queria estar perto, mas temia serem tudo aquilo que eu preconcentuava. Fui chegando de novo, porque a atração era forte, mas havia medo ainda, havia pé atrás. Nessa ano vi que findou a desconfiaça e reinava a pureza do sentimento pelo grupo tão bacana que eu admiro e defendo com unhas e dentes. Eu adorei passar tanto com vocês,em tantas histórias.

Peguei a estrada goiana
estrada torta e profunda
a cidade já não me cabe
o indio segue a visão

Aprontei minha sacola,
disse adeus com sorrisos
deixei meus amigos
mas levei a canção

Se Deus quiser eu volto
com histórias e sementes
com tanto de tanta gente
que vai estar lá no sertão

Não tenho medo de nada,
boto arruda no bolso
um sorriso no rosto
e boto meus pés no chão

Vou trabalhar na terra
deixo pra trás toda essa gerra
vou suar pelo o que como
e buscar minha inspiração

Vou plantar, vou colher,
na verdade tudo vai nascer
dentro do meu coração.

Miau

Eu não sei bem como dizer
Hoje vocês terão de ir embora.
E logo hoje, dia do adeus
Vocês sentam no meu colo,
Riem, brincam e choram.

Parece que já sabem bem
Que no meu coração há um lugar
Que não tem gente alérgica, que não pega fungo
Que não se importa com caixa de areia
Nem com a gastança pra te humanizar

Hoje esse lugar vai ficar vazio
Vocês foram os gatos que quase tive
Que vão deixar esse buraquinho no peito
Meio incerto se está tudo certo em devolvê-los
Certo do meu fracasso, despeito

Desistir parece-me mais duro que iniciar
Porque um vem com um impulso
Impulso de todo começo
Desistir é tão parecido com derrota
Vem abarrotado de pesar

Vocês passaram aqui
Sou grata pelos dias que vivi
Com vocês pulando ao meu redor
E me trazendo de volta a casa da vó

A vida passa e quase ninguém vê
Você cuida de mim e eu de você.