quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nas veias de Coimbra

Densamente os caminhos Portugueses se expandem nas minhas terminações nervosas. Todas as experimentações de uma cientista de mim mesma ocorreram nos últimos 3 dias. Resultados ainda não sei, só o reflexo do que ocorreu aqui a cada passo nas ladeiras. Antes dos resultados e discussões ocorre um distanciamento da autora do experimento e reflexões a se fazer;
Como pensamos diferente uns dos outros ao cruzarmos as fronteiras, mesmo brasileiros, o pensar, o julgar, o agir, tudo se modifica intensamente.
Há lugares, pessoas e fronteiras. Não percebo conexão suficiente, mesmo em se tratando da mesma lingua, e até da de um encontro na mátria.
Toda essa gente é o sangue que corre nessas veias-ladeiras.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Na tribo cor de rosa.

Revendo fotos e cartas, das poucas coisas que permaneceram desde seu casamento, ela conferia em si mesma os mais de mil sentimentos que vivera até então. Aqueles dias de separação recente estavam servindo de revisão de vida.
O mais estranho era voltar ao mundo dos solteiros e cair na real que não eram mais relações como aquelas que teve antes de se casar. Aquelas de eu te amo fácil, de adeus fácil, de entrega, de pra sempre e de nunca mais. No novo momento todos estavam crescidos demais, cansados demais, com posses demais, sérios demais para amar. Dividir andava fora dos planos dessa gente com tanta pressa de ser outra coisa.
Era cair em outro planeta. Ela vinha com o coração numa bandeja e a resposta era sempre “gosto de estar com você” “gosto do nosso lance”. Não existia mais lugar para quem vive de coração. Ninguém tinha mais tempo para ninguém, nem para receber, nem para dar. A gente se encontra quem sabe. Assunto encerrado.
É claro que também era divertido, conhecer gente, viver aventuras. Mas não era significativo. De todos os anos de sua vida, na vida adulta foi quando viu a maior imaturidade sentimental da vida.
Na verdade estar casada foi maravilhoso. Ser casada era como ter um time, saber que tem com quem contar. Ter com quem ver TV naqueles dias em que não passa nada de bom. Alguém que lembrou de pagar a conta quando achava que ela tinha vencido. Alguém do lado para ter conversas antes de dormir, que iam desacelerando o corpo de um dia agitado. Um parceiro de exploração de si mesmo. Alguém que se adora irritar. Alguém que se adora ficar com raiva e fazer as pazes.
Mas não era pra ser com aquele cara mesmo. O tempo que foi possível, fez-se o possível. Agora era mesmo hora de partir. Voltar para o estado onde nunca esteve, o de by your self. Na vida tinha dormido uns 3 anos apenas num quarto sozinha. Ou dormira com irmãos, com a mãe, com primos. Era ótima em se virar com assuntos práticos, mas não se dava bem vendo o Jornal Nacional sozinha. Resolvia equações, organizava tabelas, agilizava documentos, escrevia artigos, mas respirar o ar de apartamento vazio sufocava a noite.
Foi aí que recebeu amigas para partilhar o apartamento, era uma forma de todos resolverem suas necessidades. Partilhar vidas, histórias, comida, dilemas. Era uma tribo matriarcal, escola de preparo seja para ser junto, ser sozinho. Mas preparo para ser feliz.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Suprema lição, ruidosa folia, retumbante solidão

No fim desse carnaval uma amiga nos mandou um e-mail informando que um rapaz com quem ela saía no ano passado foi assaltado e morto em Recife. Estava me preparando para responder o e-mail, mas vi que essa era mais uma boa história para essa família que está crescendo. A mãe do rapaz ficou sabendo pelo Orkut dele,no sábado, ninguém havia entrado em contato com a família ainda. São tantas histórias pra se retirar de um acontecimento tão tragico e simbólico.
Que triste. Essa coisa do carnaval, a festa em que se pode fazer tudo, muitas vezes a gente se perde nisso né... Muito triste que o rapaz tenha sofrido pela falta de limites de alguém... Tem uma banda pernambucana que escreveu uma música sobre o carnaval. A música se passa em Olinda e conta mais ou menos essa história. E nesse ano, que passei o carnaval com meu filho aqui em Brasília, essa música ficou tocando na minha cabeça por conta de ser tão verdadeira. Fui em 3 carnavais de verdade na vida, nos demais eu fugi de carnaval, mas realmente, de um jeito ou de outro, nessa festa, é como se fosse o pretexto pra deixarmos o discernimento de lado e fazer o que queremos e o que não queremos. É a época em que tiramos a nossa fantasia, a nossa máscara, usada o ano todo. Uns bebem, uns usam drogas, uns falam demais, uns ficam/transam com muitos, mas nessa muvuca toda, com tanta gente perdida em si mesmo, tem sempre mal-feitores pra se aproveitarem disso, que roubam, que denigrem, que estupram, que matam, destroem uma vida "nesses 4 dias de diversão programada".
É necessário para o sistema vivermos 4 dias de pode tudo. Ninguém questionará o sistema se tiver essa válvula de escape. Vive-se com a máscara o ano inteiro, trabalhando 40, 44 horas por semana, reclamando bem menos porque sabe-se que vão chegar as festividades.
O bom mesmo é viver todos os dias, sem exageros. Sem trabalhar exageradamente, sem ser careta exageradamente, sem ser doidão exageradamente. Todo dia podendo ser o que é, cada dia fazer uma loucura ou uma façanha, trabalhar só enquanto se produz apenas, sem precisar dividir a tela de trabalho com msn pirateado pra conseguir falar com os amigos. Sem precisar dividir a cabeça entre escritório e o que está lá fora, porque teremos tempo de receber o amigo em casa. Não precisar dirigir enquanto dá uma briga no filho(a) pelo celular, porque sabe que terá tempo suficiente pra ensiná-lo antes ou depois de suas burradas. Não precisar transar com o marido(a), com o namorado(a) pensando em outra pessoa porque teve tempo de sair com outras antes da relação e teve tempo suficiente para refletir sobre o companheiro(a), conhecê-lo(a), para só assim estar junto de verdade. Tempo e consciência.
Aí vai a letra da música:

Carnaval Inesquecível Na Cidade Alta

Mundo Livre

Encheu o tanque não deu em nada pois a partida tava enguiçada
Um empurrão
Caiu na lama quebrou a cara
Dormiu no chão
Logo em Olinda, cheirando a mijo
Levaram tudo, que maravilha!

A picardia
Que grande lição
Inclemente euforia, estrondosa frustração.

500 mil pessoas sem fazer nada, pulando no meio da rua
Gozando do próprio sofrimento
Centenas de milhares de idiotas
Que trabalham o ano inteiro
Pra gastar todo dinheiro nesses quatro dias...
Nesses quatro dias de folia programada

Encheu a lata ficou na mão
É bateria ou iguinição
Achou alguém
Caiu no conto foi assaltado

Que animação
Levaram tudo deixando apenas a nostalgia do amor próprio
A picardia
Suprema lição, ruidosa folia, retumbante solidão.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma Pausa

Este é um diálogo com meu filho de 3 anos, que sonha em ser piloto de avião:

-Você quer ser piloto de Avião ou de helicóptero?
-Mas eu já sou piloto...
-Ué, nunca vi você fazer aula de pilotagem, e nem te vi pilotando por aí;
-Não, a gente já nasce piloto do quer na vida.