segunda-feira, 29 de março de 2010

Na tribo cor de rosa.

Revendo fotos e cartas, das poucas coisas que permaneceram desde seu casamento, ela conferia em si mesma os mais de mil sentimentos que vivera até então. Aqueles dias de separação recente estavam servindo de revisão de vida.
O mais estranho era voltar ao mundo dos solteiros e cair na real que não eram mais relações como aquelas que teve antes de se casar. Aquelas de eu te amo fácil, de adeus fácil, de entrega, de pra sempre e de nunca mais. No novo momento todos estavam crescidos demais, cansados demais, com posses demais, sérios demais para amar. Dividir andava fora dos planos dessa gente com tanta pressa de ser outra coisa.
Era cair em outro planeta. Ela vinha com o coração numa bandeja e a resposta era sempre “gosto de estar com você” “gosto do nosso lance”. Não existia mais lugar para quem vive de coração. Ninguém tinha mais tempo para ninguém, nem para receber, nem para dar. A gente se encontra quem sabe. Assunto encerrado.
É claro que também era divertido, conhecer gente, viver aventuras. Mas não era significativo. De todos os anos de sua vida, na vida adulta foi quando viu a maior imaturidade sentimental da vida.
Na verdade estar casada foi maravilhoso. Ser casada era como ter um time, saber que tem com quem contar. Ter com quem ver TV naqueles dias em que não passa nada de bom. Alguém que lembrou de pagar a conta quando achava que ela tinha vencido. Alguém do lado para ter conversas antes de dormir, que iam desacelerando o corpo de um dia agitado. Um parceiro de exploração de si mesmo. Alguém que se adora irritar. Alguém que se adora ficar com raiva e fazer as pazes.
Mas não era pra ser com aquele cara mesmo. O tempo que foi possível, fez-se o possível. Agora era mesmo hora de partir. Voltar para o estado onde nunca esteve, o de by your self. Na vida tinha dormido uns 3 anos apenas num quarto sozinha. Ou dormira com irmãos, com a mãe, com primos. Era ótima em se virar com assuntos práticos, mas não se dava bem vendo o Jornal Nacional sozinha. Resolvia equações, organizava tabelas, agilizava documentos, escrevia artigos, mas respirar o ar de apartamento vazio sufocava a noite.
Foi aí que recebeu amigas para partilhar o apartamento, era uma forma de todos resolverem suas necessidades. Partilhar vidas, histórias, comida, dilemas. Era uma tribo matriarcal, escola de preparo seja para ser junto, ser sozinho. Mas preparo para ser feliz.