segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Personal Velocity

Quando chegar aos meus 30 eu saio da minha aposentadoria de não sei o quê.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sonho do Paulinho dessa noite passada

"Mãe, sonhei que quando eu completava 6 anos aparecia um terceiro olho na testa, minha e de outras crianças"

Ai meu Deus.... Jesus só foi pro deserto depois dos 18 anos; Sidarta só foi pro exílio depois de moço! Segura a onda muleque!

Batuque na cozinha

A cozinha era ampla, azulejos antigos, extremamente limpos. Flores azuis e laranjas decoravam alguns dos azulejos e outros eram lisos em um tom claro de laranja, desbotados de tanta limpeza. O fogão, substituía o antigo fogão a lenha do casarão. A pia foi instalada dentro da casa apenas 10 anos atrás e agora ocupava um lugar ao lado da geladeira antiga, nada de vintage, apenas velha mesmo. Sem muitos utensilhos modernos ou fantásticos a decoração era acidental, feita por frutas, carne secando,queijo, rapadura e doce de leite. Colheres de pau, panelas cautelosamente ariadas, amassadas pelo tempo e com os cabos meio frouxos, mas brilhantes!
Chegamos A Mesa. A Mesa, feita pelo dono da casa 40 anos atrás, era muito rústica, desgastada e rodeada por bancos que acompanhavam o estilo. Os bancos incrivelmente comportavam toda uma família que não parava de crescer - exceto pelos bebês que eram acomodados ou nos fartos seios das mães ou sobre a mesa. A mesa era o centro do ambiente e mesmo na alta madrugada tinha sempre alguém sentado sobre esse altar.
Essa mesa é o totem da família. Nascimentos, mortes, brigas, casamentos, acordos, risadas, lágrimas, sussurros, suspiros, de tudo a mesa compartilhava, todos os rituais aconteciam nela. Na mesa a todo momento mais um se sentava e abria seu coração, recebendo em troca um caldo de acalanto, um pão de reconforto, uma colherada fresquinha de doce de recompensa.
A gente dessa família era como toda gente de toda a família. Uns eram exemplares e cheios de deveres, principalmente com as aparências. Outros eram desconectados desse planeta e muito amados nas reuniões de família porque eram carismaticamente loucos. Para outros tudo era amargura, sofrimento e dificuldade, mas sempre eram os mesmos. Para alguns tudo era sem sentido e apareciam de 10 em 10 anos. Outros tinham um segredo tão profundo que todos sabiam.Uns eram pais, outros eternos filhos. Mas todos se encaixavam e todos pertenciam de alguma forma por algum motivo. Todos amavam e recebiam amor, de alguma forma.
A matrona, linda em seus milhões de curvas, no seu olhar aguçado e no sorriso escadaloso, não era boa em respeitar as regras que ela mesma criara: lambia a colher e voltava para o pote, entrava com os pés sujos da terra do quintal, enfiava o dedo no bolo e jogava bola dentro da cozinha com os caçulinhas da família.
Enquanto ela mexia seu caldeirão, fazia sua alquimia, todo o corpo mexia e correspondia a dança daquela bruxaria boa que eram seus pratos. Quando ela batia seus preparos - sempre a mão - todos, principalmente as crianças, adoravam ver os braços dela saculejando junto a batida. Era mais poderoso que qualquer eletrodoméstico.
Ela fumava um paiol na cozinha e o velho se sentava na mesa com outros tantos e vigiava o queijo. A todo momento que alguém cortava uma fatia, muito espertamente o senhor dizia "Você está alejando meu queijo" e cortava mais uma fatia para si, a pretexto de deixar o queijo meticulosamente reto.
Algumas vezes a cozinha virava terreno feminino, inundado de vozes agudíssimas, risos altos e orgásticos e com um cheiro no ar de alho, cuminho e mulher. Elas se juntava, cozinhavam, penteavam umas as outras, contavam cabelos brancos, descascavam o esmalte, falavam dos amores, dos filhos, das vaidades, das verdades e das mentiras. Morriam para descobrir os segredos umas das outras e quase nunca conseguiam segurar os segredos das que estavam ausentes. Era como se fosse o momento de atualização das novidades da família, porque dali da cozinha tudo retumbava pelos corredores e quartos do casarão.
Na hora de lavar a louça e fazer o café o velho regia o santuario. E aos poucos iam se achegando os demais homens da família. Não ajudavam em nada,falavam do futebol, da formula 1, do carro, da dívida, dos negócios deles e dos outros. Contavam das mulheres, dos filhos e do trabalho que davam. estufavam o peito para contar das proezas deles e dos filhos. Não raro pediam conselhos sobre assuntos delicados. Coçavam o saco, cospiam pela porta que dava para o quintal e os estudados olhavam para aquilo e se sentiam mais homens imitando os mais rústicos. Voltavam para suas vidas fortes e orgulhosos dos homens que eram. As vezes voltavam miudinhos e pensativos, pois o velho que era calado, quando falava ou era sabedoria pura ou crítica dura.
Tudo ia acabando com o por do sol de domingo, ficavam ecos pelas paredes e ressoava a solidão da semana no anoitecer. A matrona, rouca de tanto falar e reger cerimônias ia se recolher e jejuar de companhia em seu canto e o velho com sua mente exausta de tentar solucionar a vida alheia ligava seu rádio e ouvia o Om da má sintonização da estação Am de rádio. Era o mantra que sintonizava ele com o vazio e limpava sua mente para a próxima cerimônia.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Cidade Hippie

Acordei louca para surpreender meu parceiro. Certo, vamos praquela cidadizinha hippie, cachoeiras, comidinha caseira, pousada gostosa, friozinho da noite, sauna, e só nós dois!
Malas prontas, carro pronto, e a alma louca pra se esbaldar. Era um domingo, a ideia era aproveitar dias fora de temporada e estrada vazia pra curtirmos juntos. Bom, haviam dois caminhos, decidi ir por um que não conhecia bem mas supostamente estava em melhores condições.
O carro seguia bem, as vezes esquentando quando ligava o ar e a chuva comia solta na estrada. Andei, andei, ele dormia tão lindo do lado. E eu andava, andava e percebia que a estrada era muito estranha, Ele acordou e paramos num posto, a resposta do vendedor foram algumas risadas e uma olhada no mapa: estávamos indo pra Belo Horizonte...
Tá bem, não sou expert em viagens, estradas... Eu estava ainda com bom humor, ele ria junto e seguimos voltando. A chuva melhorou, pensei em ir pra casa e ficar nas cobertas mesmo, mas a vontadinha de escapar foi maior.
A estrada estava boa e comecei a me animar. Eu ia dirigindo super bem (sem óculos e meio assustada desde meu último capotamento), meu namorado estava do meu lado e comentando que eu dirigia bem.
Chegamos na cidade, depois de errar a entrada, mas não tinha problema, queríamos jantar e encontrar um cantinho pra dormir, pegar uma sauninha. Quartos de domingo deveriam ser bem baratos, mas não nessa cidade. Sem noção, os pousadeiros continuavam cobrando preços absurdos. Mas tudo bem, desde que tenha sauna. Todas quebradas... Fomos na de cama gostosa e gente simpática. Nas demais o programa do Faustão não permitia que as pessoas nem se mexessem.
A comida que achamos foi fantástica! Mas eram daquelas que deixam você pesado uma viagem inteira. Mas gostosa. Eu estava num resfriado chato, e fomos pro hotel dormir e torcer por uma segunda bacana com cachoeiras, etc, etc.
A manhã demorou a chegar para nós, umas 11! Obviamente aquela gente simpática da pousada nos disse simpaticamente que o café já tinha acabado. Tudo bem, vamos aproveitar para ir no famoso brunch hippie da cidade, fechado! Bem, 11 e meia, meio dia... Fazer o que? Tomar um café qualquer na rua e andar sem rumo.
Fomos andando, lojinhas bacanas, muitas fechadas. Muita gente parada pela rua, a toa... Muita gente perdida e bêbada. Vamos pra estrada, atrás de uma cachoeira, finalmente, 2 e meia... E íamos, íamos e o que meu nariz me disse pra eu ir dormir. E voltamos, voltamos. A cama confortável foi importante, passei a tarde nela. As vezes percebia de rabo de olho um lindo moço me espiando. Paradinho em suas férias, se entretinha até com os textos do guia turístico.
Um dia que acabou e eu ressuscitei no por do sol. 5 horas, vamos em busca de um bom por do sol na estrada. Ninguém ainda tinha relaxado, não tinha lugar para ir aquela hora. Dirigimos, dirigimos, paramos na beira da estrada. Sentamos e parados por uns 40 minutos, filosofamos. E a bunda ficou marcada pelas pedras do acostamento. E vimos um sol bonito, que renasceria lá no Japão em breve.
Voltamos, comemos, dormimos para acordar cedo e pela manhã seguimos sem muitas delongas.
Eu vi que minha encantada cidade hippie não estava lá; e que as segundas feiras dos hippies são maçantes e mortas.
Mas vi um parceiro verdadeiro que se dispôs a se aventurar, que não se indispôs por se perder, que acolhe a namorada resfriada, que mantêm um sorriso mesmo numa beira do nada de estrada.
Viva eu e você, e basta!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Acredito que a poesia morreu. Quero ressucitá-la com música! Algum compositor pra fazer dupla?

Sabedoria Natural

Sempre há de ter alguém
com um sorriso escondido no rosto.

Sempre há de ter alguém
com um lindo dia escondido no bolso.

Sempre há de ter alguém
que se refugia atrás de outro dorso.

Sempre há de ter alguém
que acredita em santos ocos.

Sempre há de ter alguém
remoendo as entranhas dos outros.

Sempre há de ter alguém
para sorrisos escancarar.

Sempre há de ter alguém
para dias transformar.

Sempre há de ter alguém
para por os outros para encarar.

Sempre há de ter alguém
para a fé alimentar.

Sempre há de ter alguém
para almas restaurar.