quarta-feira, 8 de julho de 2009

Mãe ET

Todas as noites a mãe olhava pela janela de seu apartamento alugado no fim da Asa Sul. Adorava mostrar às filhas os discos voadores “vejam, vejam nem aviões e nem balões tem luzes assim, são meus amigos vindo ver se tá tudo bem”. A mais nova ouvia essas histórias e se debruçava em elaborações sobre o assunto.

Sua mãe lhe dizia que lá, no planeta de onde veio, as pessoas tinham filhos e todo mundo cuidava do filho do outro, e as crianças rapidamente se viravam. Não haviam uniões conjugais, não haviam famílias. Havia um amor por todos, como um planeta-família. A pequena só percebia mais e mais o quanto sua mãe não queria estar ali.

O mais engraçado é que a história pegou e a mais nova criou sua própria teoria. Acreditava que também era do mesmo planeta, e que, de lá, ela estava sonhando com essa vida. Achava que era tudo um sonho, um sonho bem longo como todos de seu planeta natal tinham. E era um sonho às vezes divertido, às vezes triste, mas que certamente um dia ia acabar e ela acordaria linda e maravilhosa no planeta distante. Contaria as coisas malucas que lhe aconteceram e daria muita risada dos reles mortais.

A pequena menina era até apelidada de boba alegre, porque acreditava demais nas coisas. As irmãs adoravam isso, e os pais mal sabiam que suas bobagens eram sempre ouvidas e gravadas. O fato é que ela cresceu, e às vezes acredita mais no planeta que resguarda seu corpo do que o planeta em que seu sonho corre. Muitas vezes quis acordar, mas aprendeu que não é escolha dela. Aprendeu também a apreciar cada vez mais o sonho e que tudo nele é fase.

Como levar a vida a sério pensando assim....