“Diga-me
se esse pra sempre não te assusta... Me diga? Ia dizendo Alice, enquanto olhava
sua convocação para tomar posse como funcionária pública, para seu amigo Lídio.
Ela ainda não sabia como dizer sim para as cosias com longa perspectiva de
duração. Bichos de estimação: peixes beta; relacionamentos: casuais e só com casais;
família: via uma vez a cada 6 meses; emprego: qualquer coisa com temporário no nome;
moradia: repúblicas, hotéis... Até as roupas eram de baixa qualidade para não
querer ficar tempo demais com nada.
O ritmo, o jeito e a levada da vida de Alice eram muito longe de um relógio, de um calendário, de qualquer tempo. Era uma vida de agoras e de presente apenas. Se perguntassem de seus planos ela sempre dizia a mesma frase: “não tenho nada pensado, mas deve dar certo qualquer coisa que eu nem sabia que queria”. Nem querer cabia, porque querer criava aflições, planejamentos e nem com isso Alice queria se meter a fazer.
O ritmo, o jeito e a levada da vida de Alice eram muito longe de um relógio, de um calendário, de qualquer tempo. Era uma vida de agoras e de presente apenas. Se perguntassem de seus planos ela sempre dizia a mesma frase: “não tenho nada pensado, mas deve dar certo qualquer coisa que eu nem sabia que queria”. Nem querer cabia, porque querer criava aflições, planejamentos e nem com isso Alice queria se meter a fazer.
Lídio
olhava a amiga, com quem ele e a esposa andavam se encontrando e achava graça.
Ela iria trabalhar no mesmo lugar que ele agora. Ela foi fazer a prova para o
concurso por pura loucura, ele havia desafiado ela. A conversa de que “você
estará aqui só pelo tempo que quiser” sempre convenceu Lídio, que estava
sentando em sua mesa havia 13 anos. Ele, cheio de determinações e planos se
formou aos 21, se tornou funcionário público no mesmo ano e casou com uma
colega do novo emprego 3 anos depois. Tudo muito acertado, planejado e pra
sempre. Mais do que ele mesmo admitia que era.
Alice
no vai e vem dos papeis, andava com essa “família” há uns meses. Sabia que
gostava de estar com o casal e criou curiosidade em explorá-los. Ela nunca
ficou tanto tempo em uma mesma cidade e muito menos se relacionando com as
mesmas pessoas. Há 2 meses já estava morando com o casal que não tinha filhos,
mas tinha um quarto vago. Alice dizia todas as manhãs: “bom dia casal, acho que
amanhã eu já vou ter me mudado”. A resposta sempre vinha em beijos ou em piadas
sobre como ela andava se enganando.
A hóspede se preparava para entregar
todos os documentos. Também já havia decidido que a tarde iria procurar uma república
pra morar. Ela entrou pela porta do prédio governamental; viu todos aqueles
homens de ternos e gravatas; mulheres altivas e com suas alianças nos dedos.
Tudo isso a assustava... Ela quase ia voltando de onde veio, mas sua parceira-casal
segurou suas mãos e disse: você só precisa ficar o quanto você quiser...
Alice precisava se acostumar com a ideia...
Adaptação era sua especialidade, mas habituar-se não. Lídio e sua esposa já estavam encaixados com
tudo isso. Lídio e sua esposa batiam o ponto, sentavam-se nas mesas, tomavam o
lanche da manhã, sentavam de novo, almoçavam, sentavam de novo, lanchavam de
novo, sentavam de novo, levantavam, batiam o ponto e iam embora.
Mas havia algo
diferente em Alice, que só Lídio percebera e que o fez sentir que Alice teria a
sua própria versão de pra sempre. Lídio, sentou-se com
sua esposa naquele dia para conversar. Muito calma ela fez a encomenda que a
situação pedia e ambos esperaram Alice. Quando ela chegou, eles lhe entregaram
a encomenda e ela, chorando, entendeu que o que ela nem sabia que queria havia
acontecido. O resultado foi positivo.
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